Após três horas no cinema, fiquei com a impressão de ter visto um filme grandioso digno do fechamento de uma saga que começou há mais de dez anos. Páginas e mais páginas podem ser escritas sobre Vingadores: Ultimato e aqui, nem de perto, tenho a pretensão de abordar todas as questões que o longa pode suscitar. O que mais me chamou a atenção foi o fato de que apesar de ser uma fantasia de heróis, o filme é extremamente humano. De fato, entendi o porquê de o filme ser tão longo: era necessário conciliar as batalhas épicas esperadas pelos fãs com toda a questão dramática e existencial provocada pela perda de metade da população do mundo e pelo fechamento do ciclo dos heróis. Se você ainda não viu, vale a pena ir a uma boa sala de cinema para assistir o que para mim é um marco na história do entretenimento.
O texto a seguir está repleto de spoilers.
Entre outras coisas, Vingadores: Ultimato é um filme sobre o luto. Do início até provavelmente a metade, vemos os heróis que sobreviveram lutando com a dor da perda e da derrota. Em um primeiro momento, todos estão desesperados para reverter o que foi feito em Guerra infinita, mas principalmente fazer vingança. Com a destruição das joias e a morte de Thanos, todas as esperanças desaparecem. O expectador é tomado por um espírito de melancolia, assim como os personagens. Nem a Capitã Marvel (subaproveitada no filme, em minha visão) foi capaz de reverter a situação. Então, cinco anos depois, vemos um mundo devastado pela dor, pelo luto, pela perda. Percebemos os heróis lidando com o luto, cada um de seu jeito. Thor vira um bêbado depressivo. O Gavião Arqueiro vive para descontar seu ódio e sua raiva buscando uma vingança impossível. Hulk se transforma em uma fútil celebridade em busca de fãs e fotos provavelmente para sublimar o fracasso. A Viúva Negra vive como uma líder obstinada em reverter a situação, beirando a loucura. Capitão América vive como um melancólico líder de terapia em grupo, que busca ajudar os outros a superar a dor, mas ele mesmo em particular se diz incapaz de superar. Já o Homem de Ferro se torna um pessimista com relação ao mundo vivendo em reclusão com sua família e redescobrindo valores ignorados até então, como a paternidade.
A dor do fracasso, da derrota e da perda é algo que acompanha o ser humano. Por natureza somos falhos, fracos e mortais. O luto é um processo longo e demorado que varia de uma pessoa para a outra. Pessoas saudáveis, após um período conturbado, acabam aprendendo a lidar com a dor e a saudade e ressignificam suas vidas. No filme vemos a dificuldade dos personagens com esse processo. Penso que essa negação em continuar a vida se deve a dois fatores. Em primeiro lugar, os personagens estão acostumados a vencer, a serem perfeitos, a terem seus objetivos alcançados, pois são heróis. Assim, não conseguem lidar com o fracasso e superá-lo. A vida nos ensina que precisamos aprender a lidar com a dor. Mais cedo ou mais tarde vamos perder e sofrer. Os cristãos, ao contrário dos heróis, reconhecem suas fraquezas e fracassos e entendem que todo o poder para conquistar algo vem de Deus (2 Coríntios 12:6-10). Em segundo lugar, a ausência dos que foram e a culpa por não terem sido capazes de evitar as mortes assombra os heróis. O próprio Thanos, ao final, admite que a insistência humana em não continuar a vida se deve à memória que possuímos dos que partiram. A memória pode ser uma bênção em nossa vida ou uma maldição. Nós escolhemos o que fazer com ela. Lembrar o que foi bom ou trazer à mente apenas o que foi mal e assim viver em ódio, raiva e pensamentos destrutivos (Filipenses 4:8). Precisamos de esperança, precisamos olhar para frente e termos algo em que nos apoiar para continuar vivendo e ressignificar nossas vidas. Nós cristãos encontramos força em Jesus e na certeza de quem somos por estarmos com ele.
Tony Stark é o único que de alguma forma conseguiu ressignificar sua vida, tendo pela primeira vez uma vida normal, apesar de nunca ter esquecido aqueles que morreram. É muito significativo o fato de que apesar de Tony Stark ter criado para si um novo mundo de felicidade, ele é justamente o que se sacrifica no final, sem nenhum interesse próprio, para que o mundo possa continuar existindo. Isso aumenta ainda mais o valor de seu sacrifício e mostra a verdadeira jornada do herói, o que se sacrifica pelo mundo inteiro, nos fazendo lembrar Jesus Cristo (1 João 3:16).
Sacrifícios existem quando há morte, medo, desejo por segundas chances. O desejo humano de ter uma segunda chance é outra marca do filme. Em muitas situações podemos conseguir uma nova chance, mas não na morte. Vemos no filme personagens desesperados tentando uma forma de reverter o que aconteceu. Eles buscam todas as possibilidades possíveis, até que o Homem-Formiga traz uma ideia que parece absurda. Mas por ser a última possibilidade, os Vingadores trabalham nela até conseguir resultado. Com isso, vemos muitas brincadeiras com filmes sobre viagem no tempo, pois o desejo de poder voltar atrás e desfazer erros e impedir mortes é um desejo humano que sempre existiu. Como seria bom se pudéssemos voltar atrás e reverter nossos erros! Melhor ainda se pudéssemos voltar no tempo para impedir a morte! Na fantasia isso foi possível com muito blá-blá-blá de física quântica geek, heroísmo sacrificial dos personagens fantásticos e uma boa dose de sorte. Mesmo assim, a solução não é completa. Quem não foi eliminado pelo “estalar de dedos” continuou morto. Na vida real precisamos aprender com nossos erros buscando não repeti-los no futuro. Além disso, na vida real a morte vence, é irremediável. Mas será que não há qualquer esperança? Claro que há!
A Bíblia nos conta que o ser humano abriu as portas do mundo para o pecado e para a morte (Gênesis 3; Romanos 5:12). Mais cedo ou mais tarde todos morrem, essa é a nossa sentença. Mas Cristo veio ao mundo justamente para nos livrar da morte. Ele morreu na cruz levando consigo toda a consequência do pecado, a maldição, a sentença, a morte (Gálatas 3:13; 1 Pedro 2:24; 1 Pedro 3:18). Assim, em Cristo, temos a chance de começar novamente, do zero, sem a culpa dos pecados e com a condição de buscar completa restauração (2 Coríntios 5:17). Não é à toa que a Bíblia chama isso de novo nascimento (João 3:3-7). É como se Deus fizesse nossa vida voltar no tempo e nascermos novamente, agora como seres espirituais e sem a mancha do pecado aos olhos de Deus (Romanos 8:1). As consequências humanas dos nossos atos ainda podemos colher, mas as espirituais foram completamente apagadas (Hebreus 10:17,18). Por isso, aquele que está em Cristo é eterno, mesmo que morra ressuscitará no último dia (Romanos 5:15-21). Que reviravolta! Viagem quântica é fantasia, Cristo é verdade. Creia em Cristo, se ligue a ele pela fé aceite que o sangue derramado na cruz foi por você. Assim, volte no tempo.
“Disse-lhe Jesus: “Eu sou a ressurreição e a vida. Aquele que crê em mim, ainda que morra, viverá; quem vive e crê em mim, não morrerá eternamente. Você crê nisso?” (João 11:25,26) “