Cinquenta e quatro anos após o filme original, a Disney lança O retorno de Mary Poppins, um filme totalmente baseado no anterior, com estrutura narrativa similar, mesma temática, belos números musicais e o retorno da mesma protagonista, agora interpretada por Emily Blunt. Dirigido por Rob Marshall, a história se passa apenas vinte e quatro anos após a história do primeiro longa. As crianças cresceram e Michael (Ben Whishaw) é um viúvo pai de três filhos morando na mesma casa. Jane (Emily Mortimer), ainda solteira, é sindicalista e mora em outra residência. A casa da família está para ser perdida, pois Londres passa pela Grande Depressão e Michael precisou fazer uma hipoteca. Nesse contexto, em que seus filhos estão sem mãe vivendo em meio ao caos financeiro, Mary Poppins reaparece, jovem como anteriormente, disposta a ajudar no cuidado com as crianças.
O filme mostra novamente o quanto os adultos perdem a simplicidade das crianças e sua capacidade de sonhar, acreditar, ter esperança e, principalmente, a criatividade. Michael, apesar de ser artista, precisou abrir mão de seu talento para trabalhar em um banco e conseguir sustentar a família. Quando Mary Poppins retorna, ele está cético quanto a suas fantasias de infância e não crê em nada do que seus filhos contam sobre os poderes da babá. Logo um artista perdeu o poder da criatividade. A mensagem passada por Mary de que “tudo é possível” não o atinge mais, e o pessimismo e ceticismo tomaram conta dele. O filme mostra que apenas as pessoas de alma “simples” conseguem perceber as potencialidades de uma mente criativa. Tanto as crianças quanto os trabalhadores mais menosprezados pela sociedade (no caso desse filme os acendedores de lampião, no filme antigo os limpadores de chaminé) percebem o poder das palavras e ações de Mary Poppins. Assim, as crianças enxergam o mundo como ele realmente é, enquanto os adultos estão presos em suas ambições e preocupações. As crianças chegam até mesmo a discernir o bem e o mal, enquanto seu pai continua sendo enganado.
A necessidade de voltar a enxergar o mundo com a simplicidade de uma criança é o assunto principal de ambos os filmes. O ceticismo e a falta de esperança aprisionam os adultos em um mundo sem cor, triste, previsível e opressor. A falta de fé é o que nos impede de enxergar o mundo como ele realmente é e com as suas potencialidades. Lembro das palavras de Cristo que afirmou: “tudo é possível ao que crê” (Marcos 9:23). Segundo a Bíblia, o cristão vive pela fé (Romanos 1:16,17) e, por isso, precisa viver com o coração cheio de esperança (Efésios 1:18, Romanos 15:13). A fé em Cristo nos impede de viver em constante tristeza, pessimismo e ceticismo. Sabemos que o mundo é muito mais do que nossos olhos podem ver e do que a percepção de todos os nossos outros sentidos (Hebreus 11:1). Sabemos também que as coisas não acabam aqui, que existe um futuro maravilhoso (Apocalipse 21). Isso nos impulsiona a viver com fé, esperança e alegria (Filipenses 3:1). Tudo isso nos remete ao comentário de Jesus sobre as crianças, pois delas é o “Reino dos céus”. Apenas com o coração simples de uma criança podemos aceitar a realidade que Cristo nos oferece.
“Depois disso, algumas pessoas levaram as suas crianças a Jesus para que ele as abençoasse, mas os discípulos repreenderam aquelas pessoas. Quando viu isso, Jesus não gostou e disse:
— Deixem que as crianças venham a mim e não proíbam que elas façam isso, pois o Reino de Deus é das pessoas que são como estas crianças. Eu afirmo a vocês que isto é verdade: quem não receber o Reino de Deus como uma criança nunca entrará nele. Então Jesus abraçou as crianças e as abençoou, pondo as mãos sobre elas.” (Marcos 10:13-16)