Máquinas mortais

mortal-engines-trailer-1-16

Em um futuro distópico onde a civilização atual foi devastada por uma guerra atômica que durou apenas uma hora, novas formas de civilização surgem. Há a predominância das cidades motorizadas, ou seja, cidades inteiras acima de rodas e motores, que se movimentam em busca de novas presas ou cidades menores para “devorá-las” e adquirir seus recursos. A cidade retratada no filme é a cidade de Londres, que entra em território europeu em busca de recursos, uma vez que os seus estão se esgotando. Sua política é a do “darwinismo municipal”. As cidades menores são conquistadas, seus recursos capturados, mas a população da cidade englobada acaba sendo em boa parte tratada com respeito, tornando-se cidadãos da nova cidade. Essa aparente bondade é um artifício para manter as pessoas da cidade favoráveis à ideologia bélica. Vemos que a população ama uma perseguição e vibra quando uma nova cidade é englobada, não importando o tamanho da destruição proporcionada. No entanto, um líder de Londres sem escrúpulos, Valentine (Hugo Weaving) esconde um grande segredo, que é a construção de uma nova bomba atômica capaz de derrubar uma muralha que os afasta de povos não conquistados, o mesmo tipo de bomba que aniquilou a civilização no passado.

O longa é dirigido por Christian Rivers e produzido por Peter Jackson. O roteiro do filme é bem básico, simplista e não empolga. O final é previsível e as reviravoltas óbvias. Claramente os produtores estavam mais interessados em mostrar um novo universo apocalíptico com muita ação e efeitos visuais do que propriamente contar uma história. No quesito técnico o filme é ótimo, o visual impressiona muito. Vale a pena conferir o filme em uma grande tela de cinema. Há diversas referências a outros clássicos de ficção científica, como Exterminador do futuro e Mad Max, o que a meu ver é um ganho para o filme. A narrativa do longa tem como protagonista Hester Shaw (Hera Hilmar), uma moça de passado obscuro que invade Londres na tentativa de matar Valentine; e Tom Natsworthy (Robert Sheehan), um jovem de Londres que acaba descobrindo um terrível segredo de Valentine e precisa fugir da cidade juntamente com Hester. Ambos irão passar por várias aventuras a fim de deter os planos do maligno Valentine.

O filme contrapõe formas de organização sociais distintas. Uma é a do consumo desenfreado, da queima de combustível, da opressão bélica, da competitividade e necessidade de sucesso como forma de subsistência. A outra é a da sustentabilidade, da busca por viver com os recursos da naturezas, da manutenção da paz, do diálogo e do respeito às diferenças. A primeira precisa continuar conquistando, consumindo e aniquilando, senão a “máquina para”. Já o segundo se protege atrás de uma muralha, tentando manter do lado de fora tudo aquilo que não promove a paz e que foi responsável pela destruição que ocorreu no passado. Fica evidente que na sociedade do consumo desenfreado é impossível estabelecer limites, pois a manutenção da ordem vigente sempre precisará de novas conquistas e novos recursos. A guerra não tem fim e, quando os recursos ficam escassos, há a necessidade de se optar por maiores iniciativas, como uma invasão, a construção de uma “super bomba” e outras opções destrutivas. Essa é uma crítica clara às superpotências mundiais que sempre sobreviveram através da guerra, da exploração e opressão a outros povos, culminando com guerras e ameaças de destruição em massa. Aliás, o filme mostra que o mundo já havia sido destruído dessa forma e os personagens caminhavam para repetir tudo novamente. A alternativa a esse desastre é a sociedade sustentável, claramente o modelo idealizado pelos produtores do filme.

Fica a reflexão sobre a nossa realidade. Vivemos na sociedade bélica de consumo desenfreado e precisamos entender que esse modelo mata o ser humano, mata o planeta, mata os relacionamentos e assassina qualquer tentativa de paz entre pessoas e povos. Todas as guerras na história foram travadas pensando-se na conquista de territórios e seus recursos e parece que estamos muito longe de mudar nosso modelo de vida. Como cristão, sou obrigado a rever meu modo de vida, pois sirvo o príncipe da paz (Isaías 9:6; Mateus 5:9), aquele que ensinou a não acumular recursos (Mateus 6:19-21), a abrir mão, a servir, a perdoar (Mateus 5:38-48). Que possamos refletir nisso.

“Não paguem a ninguém o mal com o mal. Procurem agir de tal maneira que vocês recebam a aprovação dos outros. No que depender de vocês, façam todo o possível para viver em paz com todas as pessoas.” (Romanos 12:17,18)

 

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s