De repente uma família se vale do humor para chamar a atenção para um tema muito sério: adoção. A conscientização sobre esse assunto é importante tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil, por isso é um filme que merece ser assistido, não apenas por ser uma boa comédia, mas também por ser capaz de sensibilizar o espectador e nos fazer refletir sobre a importância da adoção.
A história do filme dirigido por Sean Anders é a de um casal bem-sucedido (Mark Wahlberg e Rose Byrne) que investiu tempo e energia em tentar montar um negócio de sucesso e em determinado momento percebeu que talvez fosse interessante ter filhos. Porém eles já se sentiam velhos para começar do zero e resolveram pesquisar o assunto adoção. Ao participarem de um curso com outros pretendentes e ministrado por duas assistentes sociais divertidíssimas, acabam se empolgando com a ideia. É muito interessante a progressão do pensamento de ambos sobre adoção à medida que as aulas do curso são ministradas. De início eles buscam uma criança, depois se abrem para talvez dois irmãos e por fim acabam considerando até mesmo adotar um adolescente. Em um evento para conhecer as crianças passíveis de adoção, algo bem diferente do processo brasileiro, eles se encantam com uma adolescente de 15 anos (Isabela Moner) e depois descobrem que ela possui dois irmãos pequenos. Ou seja, precisariam levar os três para casa. Daí sucedem as mais variadas situações que envolvem erros e acertos, momentos bons e rejeições, crises, arrependimentos e, no pacote, boas risadas.
O filme acerta em mostrar diversas situações que ocorrem em adoções, como o impacto na família de cada um do casal, as vivências e traumas que as crianças trazem que explodem em seus comportamentos, o estranhamento das crianças entre seu antigo mundo de privações e a nova família com ótima condição financeira, a vivência das crianças com a família antiga e, certamente, todas as adaptações que o casal precisa fazer por ter literalmente “do dia para a noite” uma adolescente e duas crianças em casa. O casal continua frequentando o grupo de apoio que consiste nas mesmas pessoas do curso que fizeram. Esse grupo acaba sendo fundamental para que eles possam superar as crises sendo aconselhados e ouvindo as crises dos outros pais que também adotaram. As situações não são romantizadas, revelando que a equipe por trás do filme está a par da beleza e dos desafios do processo de adoção. Apesar de o processo de adoção ser um pouco diferente aqui no Brasil, boa parte do curso que eles fazem é bem parecido com os cursos ministrados por aqui, bem como os grupos de apoio, o que mais uma vez evidencia que o filme tem um apelo universal. É muito fácil quem já passou por esse processo se identificar.
O cuidado para com o órfão na Bíblia é um tema muito recorrente (Êxodo 22:22,23; Isaías 1:17; Tiago 1:27). Deus exige que seu povo trate com justiça aquele que pelas mais diversas circunstâncias da vida encontra-se desprotegido. O cristão deveria ser alguém que se preocupa em melhorar ao máximo a vida dos órfãos que estão ao seu redor. Ajudar financeiramente, ajudar na educação deles, pregar o evangelho, são atitudes que muitos cristãos tiveram ao longo do tempo e que certamente ajudaram nessa causa. No entanto, em última análise, isso acaba ficando apenas no campo da filantropia, da caridade, da esmola. Com Jesus, aprendemos que sempre é possível fazer mais. Amar de fato é trazer para perto, conviver. Por isso a adoção não é caridade, é tornar-se pai e mãe de verdade. Incorporar alguém na família, com os mesmos direitos e com o mesmo vínculo de amor. Lemos nas páginas da história que os cristãos da igreja primitiva entenderam esse conceito. Abrigavam e até mesmo adotavam as crianças rejeitadas pelos romanos. Isso acabou se tornando uma marca cristã.
Infelizmente isso não tem sido uma característica dos cristãos atuais. É muito difícil encontrar alguém nas igrejas que esteja fazendo um processo de adoção ou que tenha adotado. Conheço casos em que casais na igreja estavam pensando em adotar e foram tremendamente desencorajados pelos outros cristãos e até mesmo pelo pastor. As desculpas são as mais bárbaras e preconceituosas possíveis: “vai trazer problema” / “você vai adotar um marginal” / “vai vir com problema genético” / “vai que é filho de dependente químico” / “não é seu sangue” / “vai sair de casa e voltar para pegar herança quando você morrer” / etc. A situação fica ainda mais absurda quando percebemos a hipocrisia ao constatar que são essas mesmas pessoas que gritam contra o aborto e contra a adoção de crianças por casais homossexuais. Quem então vai adotar as crianças filhas de quem não teve condição de criar? Passar a infância e a adolescência sem família em um abrigo é melhor para elas?
O filme retrata de forma excelente que boa parte dos problemas que vieram com a adoção são problemas intrínsecos à paternidade. Ou seja, os pais teriam os mesmos problemas se fossem filhos biológicos. Ao final, percebemos que a chance que Deus nos dá de transformar a vida de alguém é algo maravilhoso e certamente infinitamente superior aos problemas acarretados pela adoção. Sempre ouço que ser pai e mãe é conhecer melhor o coração de Deus pai. Adotar então significa conhecer ainda mais profundamente o coração de Deus, pois nós fomos adotados pelo pai quando nos entregamos a Jesus. Pense e medite nessas palavras.
“Porque não recebestes o espírito de escravidão, para viverdes, outra vez, atemorizados, mas recebestes o espírito de adoção, baseados no qual clamamos: Aba, Pai. O próprio Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus. Ora, se somos filhos, somos também herdeiros, herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo; se com ele sofremos, também com ele seremos glorificados.” (Romanos 3:15-17)
“[…] assim como nos escolheu, nele, antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis perante ele; e em amor nos predestinou para ele, para a adoção de filhos, por meio de Jesus Cristo, segundo o beneplácito de sua vontade, para louvor da glória de sua graça, que ele nos concedeu gratuitamente no Amado […]” (Efésios 1:4-6)