Animais Fantásticos: Os crimes de Grindelwald

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O novo filme “de Harry Potter sem Harry Potter” é, em última análise, um filme político. Traz novamente o protagonista Newt Scamander (Eddie Redmainer) que desta vez recebe a missão de ir à França encontrar o jovem Credence (Ezra Miller) antes que ele caia nas mãos do fugitivo Grindelwald (Johnny Depp). O roteiro é assinado pela própria autora dos livros, J.K. Rowling. Vemos novamente um filme firmado em muitos efeitos visuais tanto para as cenas de ação quanto na aparição dos animais do primeiro filme e outros novos – isso já é motivo suficiente para que o filme seja visto em uma sala de cinema com tela de ótima qualidade. Além de contar com muitos atores de renome, o filme se destaca também por apresentar uma trama principal e outras que parecem secundárias, mas que também são muito importantes não só à narrativa do filme, mas ao universo Harry Potter. Me chamou muito atenção o fato de o filme ter claramente um viés político.

A narrativa principal está focada, como o próprio nome diz, nos crimes de Grindelwald e na tentativa de detê-lo. Mas, desta vez, Hogwarts é revisitada, revelando a juventude de alguns personagens importantes, como Dumbledore (Jude Law), e mostrando um pouco do passado dessa escola, bem como a situação política da época. A história lembra muito a trama de X-Men sobre a amizade entre Xavier e Magneto, na qual, apesar de uma amizade muito próxima no passado, ambos se tornam inimigos por questões ideológicas. No caso de Animais Fantásticos, ao longo do filme é revelado que havia uma amizade muito próxima entre Dumbledore e Grindelwald (muito próxima mesmo, se é que me entendem…) e agora eles assumem posições ideológicas opostas, o que os coloca como inimigos em uma guerra iminente. O segundo quer travar uma guerra contra os não bruxos para eliminá-los ou escravizá-los. O primeiro defende a manutenção da paz.

A história se passa em 1927, período entre guerras e de ascensão do Nazismo. O discurso de Grindelwald lembra muito os discursos nazistas de guerra e pureza racial. Ele é um extremista que agora não mede esforços para convencer os bruxos a se juntarem a ele. Apesar de ser um terrorista, sua principal estratégia é tentar provar que ele é pacífico e que aqueles que defendem a paz são os violentos. Há uma cena marcante em que, na presença de um auditório lotado, ele provoca ao máximo seus inimigos até que eles se sentem acuados, fazem um ataque, e acabam assim, sem querer, embasando ao auditório a tese de Grindelwald. Em seu discurso de convencimento, ele revela a todos o futuro da humanidade, mostrando que haverá uma segunda guerra mundial, defendendo assim que antes disso os não bruxos precisam ser eliminados, pois eles só causam guerra. Sua tese é a mesma de tantos extremistas que já passaram pelo mundo: a solução para evitar a morte de milhares é matar milhares, assim eu escolho quem morre de acordo com meu viés político. Interessante a autora trazer essa temática em um momento em que extremismos estão novamente em voga no mundo todo. Newt, a princípio, se diz neutro nessa batalha, afirma que não possui lados. Em determinado momento, no entanto, ele acaba se posicionando e entendendo que em situações de extremismo não é possível ficar neutro.

Vale aqui destacar que o cristianismo bíblico não aceita a violência como forma de conter a violência (“Mas eu lhes digo: Não resistam ao perverso. Se alguém o ferir na face direita, ofereça-lhe também a outra.”, em Mateus 5:39), e que o cristão precisa ser um pacificador (“bem- aventurados os pacificadores…”, em Mateus 5:9), mesmo que por conta da sua atitude de pacificar ele sofra ofensas e violências. Não esqueçamos que Cristo viveu tudo o que pregou: deu a outra face, não revidou, pediu perdão a seus transgressores e com essas atitudes acabou sendo crucificado. E ele mesmo disse que se queremos ser seus seguidores precisamos tomar a nossa cruz (Mateus 16:24).

Vale destacar também o papel do protagonista Newt nessa aventura. Ele é enviado por Dumbledore para sua missão e, ao questionar sobre o porquê de ter sido escolhido, Dumbledore revela que Newt é o único que não pensa em si mesmo e está reocupado apenas com o bem dos outros. Assim, ele é que não pode ser corrompido. Essa característica de fato se tornou muito importante, pois ao longo da narrativa muitos bruxos são corrompidos pelo discurso de Grindelwald. Newt é incorruptível por conta de sua simplicidade e dos valores de seu coração. O fato de não colocar seus interesses em primeiro lugar o impede de ceder a impulsos egoístas e violentos. Pessoas assim são chamadas para missões importantes, não só na ficção, mas na vida real. Deus usa aqueles que se dispõem a colocar o Reino dele em primeiro lugar. Que possamos ser assim.

“Nada façam por ambição egoísta ou por vaidade, mas humildemente considerem os outros superiores a si mesmos. Cada um cuide, não somente dos seus interesses, mas também dos interesses dos outros.” (Filipenses 2:3,4

 

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