Estamos diante de uma cinebiografia da banda Queen ou de seu vocalista, Freddie Mercury. As duas afirmações são possíveis. O filme dirigido por Bryan Singer tenta narrar a saga da banda e seu vocalista desde os tempos de anonimato até a brilhante apresentação no Live Aid em 1985. O foco principal está em Freddie, seu brilhantismo, seu talento inigualável, sua ousadia e suas condutas questionáveis. Os acontecimentos passam em um ritmo acelerado, as pausas ficam por conta das canções principais do Queen, boa parte delas tocadas integralmente com interpretações em estúdios, em shows ou em momentos da vida dos personagens. O ponto alto do filme é a interpretação que Rami Malek faz de Freddie Mercury. Ele busca à exaustão copiar suas expressões e seus trejeitos, mesmo sendo um ator que não possui muita semelhança com ele. A mixagem de som das músicas e a recriação dos shows impressiona e emociona qualquer fã da banda. Mesmo sendo impossível retratar toda a complexidade de Freddie e toda a obra de Queen, Bohemian Rhapsody é um filme agradável e emocionante que vale a pena ser visto tanto pelos fãs da banda quanto por aqueles não conhecem sua trajetória.
Freddie Mercury até hoje é visto como uma figura enigmática. Alguém com uma personalidade excêntrica, uma qualidade vocal incrível e muito talento para compor. O filme retrata como esse imigrante que morava com a família e fazia faculdade em Londres se tornou provavelmente o maior astro mundial de rock. As questões de identidade sexual do cantor são exploradas no filme, apesar de optarem por não mostrar cenas explícitas. Freddie é gay, mas casa com uma mulher e em determinado momento resolve contar a ela que é bissexual. Ela prontamente responde que não, que ele é gay. Eles se separam, mas continuam amigos. Com sua excentricidade e seu orgulho, aos poucos ele vai afastando as pessoas de perto tendo vários momentos de solidão e abusando da promiscuidade e do uso de drogas. O filme evidencia o momento em que ele se descobre como soropositivo e conta para o restante da banda.
Uma marca da banda Queen muito acentuada no longa é a originalidade. Eles querem tocar para os excluídos, não aceitam se encaixar em padrões e fórmulas. Buscam todo o tempo reformular estilos e chocar a audiência. Tudo isso certamente acarretou muitos problemas em sua carreira, com gravadoras, produtoras e estúdios de televisão. A composição da música que dá nome ao filme, Bohemian Rhapsody, exemplifica tudo isso. Mas essa originalidade fez com que Queen se tornasse o maior sucesso de sua época. Pelo menos essa é a tese do filme. Fiquei intrigado com essa característica da banda, que acaba sendo paradoxal com a vida pessoal de seus integrantes e sua história. Ao mesmo tempo que Freddie busca a originalidade e é alguém completamente diferente de todos os outros de seu tempo, ele acaba vivendo em muitos aspectos a vida clichê de um astro de rock: anonimato, sucesso, orgulho, divórcio, uso de drogas, brigas com gravadores e empresários, separação da banda, fracasso e retorno da banda, vida de luxúria, promiscuidade acentuada e, por viver nos anos 80, infecção pelo vírus da AIDS.
Freddie foi dotado por um talento raro. Estudiosos dizem que nunca houve uma voz como a dele. Creio que Deus deu a ele esse talento e essa capacidade inigualável. No entanto, ele estava sujeito aos mesmos erros e às mesmas tentações de qualquer ser humano que alcança o que ele alcançou. A Bíblia afirma que todos somos pecadores, inclinados para o mal. Nossa natureza humana busca a satisfação própria e a vaidade pode ser um monstro incontrolável. O pecado pode destruir tudo que Deus nos deu e pôr tudo a perder. Vemos no filme um homem que tem tudo, mas não se sente realizado; dominou o mundo, mas está sozinho; arrasta multidões ao estádio, mas precisa pagar por companhia. Ao não controlar os impulsos do ser humano caído, perdeu a sua vida. Infelizmente essa é a mesma história daqueles que alcançaram fama, sucesso e poder. Somos facilmente corrompidos.
Jesus Cristo é a resposta para o vazio da alma (João 4:10, João 7:37,38), é ele quem nos dá paz e nos faz sentir plenos mesmo em meio à pobreza e dificuldade (João 14:27, João 16:33). Jesus ensina que a humildade é a única via verdadeira para o sucesso (Filipenses 2:1-4), e ele mesmo viveu no caminho da humildade. Que possamos aprender que fama e sucesso não são a resposta para nossa vida e, em muitos casos, podem nos levar à ruína. Precisamos buscar mais de Cristo, mais de sua paz, mais de sua humildade, mais de seu caráter.
“Seja a atitude de vocês a mesma de Cristo Jesus, que, embora sendo Deus, não considerou que o ser igual a Deus era algo a que devia apegar-se; mas esvaziou-se a si mesmo, vindo a ser servo, tornando-se semelhante aos homens. E, sendo encontrado em forma humana, humilhou-se a si mesmo e foi obediente até à morte, e morte de cruz! Por isso Deus o exaltou à mais alta posição e lhe deu o nome que está acima de todo nome, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho, no céu, na terra e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para a glória de Deus Pai.” (Filipenses 2:5-11)