A justiceira

a justiceira

Este é um filme que repete a mesma fórmula já utilizada exaustivamente por Hollywood: o protagonista tem sua família atingida pelo crime e volta para se vingar de todos que lhe fizeram mal. A novidade neste longa é o fato desse protagonista ser feminino. Jennifer Garner interpreta a mãe de família Riley North, que acaba vendo marido e filha serem assassinados pelo crime organizado por conta de uma espécie de mal-entendido. Ao perceber que será impossível conseguir justiça pelos meios tradicionais, desaparece por cinco anos e retorna equipada, treinada e bem-disposta para a sua vingança.

Para não ser uma cópia exata de outros filmes como Desejo de matar, John Wick, Jason Bourne, Comando para matar, O protetor e outros, algumas características desse gênero são levemente alteradas. A cronologia narrativa pode ser vista como um diferencial, iniciando o filme já com uma vingança de Riley, para então no flashback mostrar o que aconteceu com ela. Também há um grande foco na questão dramática, tanto de sua vida em família quanto em sua luta em tentar acusar os criminosos, lidando com policiais e juízes corruptos. Fica evidente que não há a menor possibilidade dela ver os criminosos condenados por seus crimes, pois o sistema é todo corrompido. Também não há nenhuma atenção para o seu treinamento e o seu caminho para conseguir as habilidades conquistadas. Há um grande salto no tempo, deixando um mistério tanto para os personagens que a reconhecem cinco anos depois como para o expectador. No mais, vemos boas cenas de ação com lutas, perseguições, explosões e tudo o que um filme assim tem direito. Por isso, mesmo sendo mais do mesmo, o filme é interessante.

A vingança é um tema recorrente não só na arte, como em nosso cotidiano. Temos em nós um grande senso de justiça, e por isso não aceitamos que ela não seja feita. Lidamos diariamente com várias formas de injustiças e em geral não vemos nenhuma forma de equiparação. Para piorar, perdemos até mesmo a esperança de que a justiça seja feita um dia. Nesse cenário, filmes assim acabam sendo muito atraentes, pois por pelo menos por duas horas conseguimos assistir o sofrimento dos maus, mesmo que apenas na fantasia. Precisamos entender que por mais que seja muito tentador, a vingança não pode estar em nossa mão (Romanos 12:19,20). Sobre vingança, recomendo a leitura da minha análise sobre O Protetor 2, pois é exatamente a mesma aplicação.

Algo que muito me chamou atenção na caracterização de Riley North é o fato de que, ao contrário de outros vigilantes da ficção, ela não está nas ruas impedindo assaltos e tentando levar tranquilidade aos bairros residenciais e comerciais. Ela está buscando os assassinos de sua família, mas não apenas isso. Seu refúgio é entre moradores de rua e populações marginalizadas, tornando-se uma protetora daqueles que estão em situação de risco. Estes a enxergam como um anjo que está defendendo sua causa. A parte da cidade onde estavam os sem-teto que mais sofriam com a violência se transformou no local com menor índice de criminalidade desde sua volta. Seu amor por aquelas pessoas pobres, sujas, rasgadas é tão grande que em determinado ponto da trama acaba até mesmo comprometendo seu plano. Ela enxerga humanidade em quem o restante do mundo despreza. Por isso, podemos perceber que Riley não estava cega pela vingança nem se transformou em um monstro. Sua perda a fez enxergar a perda dos demais e sofrer com os que sofrem com os vários tipos de perda que existem em uma sociedade. O sofrimento a tornou mais sensível à dor dos outros e, sem saber, ela acaba nesse aspecto cumprindo o ideal das escrituras de amor a todos, principalmente ao necessitado. Ela acaba promovendo justiça para aquelas pessoas ao tentar dar-lhes o mínimo de tranquilidade e vida digna, sendo mais útil a elas do que à sociedade como um tudo em sua busca por vingança pessoal. Que possamos utilizar as injustiças que sofremos quase diariamente para olhar com compaixão àqueles que também sofrem injustiças e ajudá-los.

“Ouçam, meus amados irmãos: não escolheu Deus os que são pobres aos olhos do mundo para serem ricos em fé e herdarem o Reino que ele prometeu aos que o amam? Mas vocês têm desprezado o pobre. Não são os ricos que oprimem vocês? Não são eles os que os arrastam para os tribunais? Não são eles que difamam o bom nome que sobre vocês foi invocado? Se vocês de fato obedecerem à lei real encontrada na Escritura que diz: ‘Ame o seu próximo como a si mesmo’, estarão agindo corretamente. Mas se tratarem os outros com favoritismo, estarão cometendo pecado e serão condenados pela Lei como transgressores.” (Tiago 2:5-9)

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