O longa Kin é um filme dirigido por Jonathan Baker e Josh Baker, fruto da expansão de um curta produzido pelos mesmos diretores chamado Bag Man.
É um filme difícil de classificar pois mistura vários gêneros propositalmente. Ele é um road movie que contém um pesado drama familiar, além de ação envolvendo o crime organizado e a polícia e a participação de soldados extraterrestres. Parece uma mistura de filme do canal Syfy com Malhação, Stranger things e um toque da série Fargo (com direito à participação da atriz que faz a protagonista da série em uma de suas temporadas). Percebemos várias referências a temáticas e estéticas de filmes consagrados como Exterminador do futuro, Robocop, Under the skin, entre outros. Apesar de conter uma premissa absurda e ser uma salada de gêneros, ele consegue cativar a atenção do expectador que gosta de filmes de ação, de herói e de ficção científica. Fui assistir sem saber nada além da sinopse e voltei com uma boa impressão e com a certeza de que quem escreveu a sinopse não assistiu ao filme.
O filme tem como centro a história de Eli (Myles Truitt), um menino negro adotado de 12 anos de idade que mora apenas com o pai após a morte da mãe e tem dificuldades de relacionamento com outros adolescentes. Um dia ele encontra uma arma de outro mundo superpoderosa capaz de vencer qualquer inimigo e, ao mesmo tempo, seu irmão mais velho sai da cadeia e retorna para uma tentativa de reaproximação com o pai. Certamente muitos problemas envolvendo violência acontecem e a arma de Eli acaba sendo a solução para grande parte das situações que virão sobre ele e seu irmão. Ambos acabam em uma viagem cruzando o país vivendo situações de perigo e encontrando pessoas. Enquanto os inimigos que seu irmão fez na cadeia os perseguem, os soldados de outro mundo também estão em seu encalço para recuperar a arma que perderam.
(Parágrafo com poucos spoilers; se não desejar ler, basta pular para o próximo.) Ao mesmo tempo em que a vida de Eli desmorona a sua volta, ele possui uma arma que é o sonho de qualquer adolescente: lhe dá poder, respeito e o torna invencível. Como a arma só funciona em sua mão, quem está ao seu redor acaba usando o menino para obter vantagens. Assim, ele vive inúmeras situações que um garoto de 12 anos não poderia experimentar: entra em um clube de striptease, realiza assalto, vai jogar em Las Vegas, é preso e mata pessoas em legítima defesa. Fiquei pensando que o que pode ser uma grande fonte de poder pode ao mesmo tempo ser maldição. Claro que o filme é construído de forma a mostrar que a arma é a responsável por salvar o protagonista dos ataques e da morte. Mas há o momento em que Eli se percebe enganado, usado e passa por uma grande decepção. Ao final, a arma lhe é retirada, pois ele não poderia ter acesso àquele tipo de poder.
A vida seria melhor se tivéssemos uma arma mágica? O filme mostra que não necessariamente. Seríamos reféns das pessoas ao nosso redor, que certamente iriam nutrir conosco relacionamentos por interesse. Seríamos também reféns da nossa própria raiva desmedida e acabaríamos em momentos de ira fazendo coisas das quais depois nos arrependeríamos. A arma foi algo que ajudou para a sua própria defesa, mas não resolveu seus reais problemas de rejeição familiar, a dor pela morte de entes queridos e sua inadequação social. O maior poder demonstrado acabou sendo o poder do perdão, o poder do amor, o poder do relacionamento humano. O foco do filme todo são os relacionamentos e não o poder bélico. Vivemos em busca de soluções fáceis e materiais para resolver nossos problemas, como enriquecimento instantâneo, uso de força bélica, relacionamento com pessoas poderosas politicamente e troca de influências, mas não percebemos que muitas vezes essas soluções acabam trazendo mais tristeza ainda e desunião. Quando investimos nos relacionamentos familiares, quando valorizamos a amizade acima de qualquer coisa, quando aprendemos a perdoar e a amar apesar das diferenças, mudamos tudo o que está a nossa volta de maneira muito mais efetiva. Poder? Só aquele vindo do alto, que vem sobre nós justamente para nos capacitar a amar o próximo e vivermos nossa vida de forma justa. Assim, busquemos o verdadeiro poder.
“Essa esperança não nos deixa decepcionados, pois Deus derramou o seu amor no nosso coração, por meio do Espírito Santo, que ele nos deu.” (Romanos 5:5)
“Eu poderia falar todas as línguas que são faladas na terra e até no céu, mas, se não tivesse amor, as minhas palavras seriam como o som de um gongo ou como o barulho de um sino. Poderia ter o dom de anunciar mensagens de Deus, ter todo o conhecimento, entender todos os segredos e ter tanta fé, que até poderia tirar as montanhas do seu lugar, mas, se não tivesse amor, eu não seria nada. Poderia dar tudo o que tenho e até mesmo entregar o meu corpo para ser queimado, mas, se eu não tivesse amor, isso não me adiantaria nada.” (1 Coríntios 13:1-3)