Estrelado por bons atores como Jon Hamm, Jeremy Renner, Ed Helms e Isla Fisher, Te peguei! é baseado na história real de amigos que fizeram um pacto de continuar juntos brincando de pega-pega por toda a vida. Assim, há 30 anos os mesmos 4 amigos passam o mês de maio pregando peças um no outro em um autêntico pega-pega em que vale tudo para surpreender o outro. Só há um problema: um deles nunca foi pego e é bom demais nessa brincadeira.
Este filme me chamou mais atenção pelas questões humanas que levanta do que pela execução em si. Algumas piadas são boas, outras nem tanto e em boa parte do filme fiquei com a impressão de que estavam exagerando ou forçando a barra. Um filme com quatro marmanjos e algumas mulheres que se juntam a eles brincando de pega-pega poderia render algo um pouco mais divertido do que vi. De qualquer forma, vale a pena assistir por alguns momentos de diversão e pela temática que explico a seguir.
Algumas situações que fazem parte da nossa vida estão presentes nesse longa, mas não são discutidas. Fica ao espectador avaliar como lidar com elas em seu dia a dia. A brincadeira do pega-pega levanta, a meu ver, pelo menos três questões: (1) a dificuldade que temos em manter as amizades antigas com as mudanças que acontecem em nossa vida e à medida que o tempo passa; (2) o amadurecimento dos homens que, em muitos casos, apesar de serem líderes de empresas, pais de família, continuam se comportando como adolescentes irresponsáveis; (3) a competitividade latente em todos nós que faz com que continuemos nos medindo e comparando para ver quem é o melhor.
Os amigos percebem que o compromisso com a brincadeira é uma forma de manter a amizade da escola para a vida. Independente do que aconteça e de onde eles estiverem, no mês de maio, de alguma forma, eles vão precisar se ver para pegarem um ao outro. Vivemos em um mundo de muito compromisso, muito trabalho e dinamismo. É cada vez mais difícil manter amizades por muitos anos, mais difícil ainda se essas amizades forem de infância. É necessário muito comprometimento e dedicação para manter pessoas em nossa vida. De repente, quando percebemos, não vemos pessoas queridas há cinco ou dez anos. Precisamos nos preocupar em manter os bons amigos, as pessoas de confiança, pois não somos nada sem relacionamentos (Provérbios 17:17).
A questão da “adultescência” é um problema atual muito recorrente, principalmente entre homens. Por um lado, não podemos perder nosso senso de humor, nossa simplicidade, nosso espírito aventureiro e outras características comuns às crianças que os adultos negam e acabam vivendo uma vida muito mais pesada do que deveriam. Por outro lado, a idade precisa trazer maturidade e o senso de responsabilidade. No filme, eles abandonam tudo para brincar: trabalho, família, compromissos e até a própria segurança. Vale tudo para que eles continuem se sentindo jovens. Penso em tantos homens que abandonam compromissos com filhos e esposa para jogar videogame, para beber com amigos; ou que são relapsos no trabalho para continuar vivendo como adolescentes. A Bíblia fala que para tudo tem um tempo (Eclesiastes 3:1-8; 1 Coríntios 13:11) e precisamos reconhecer a fase da vida que vivemos e agir com a responsabilidade adequada.
Na Bíblia, Jesus nos ensina a ser como crianças (Mateus 18:3,4). Certamente, ele tinha em mente a simplicidade da criança e sua humildade. Não é essa característica infantil que vemos no filme. A brincadeira deles consiste em competir um com o outro até as últimas consequências para ver quem é o melhor. Eles se apropriam do que existe de pior na brincadeira infantil. Todo o tempo eles estão buscando constatar quem é o melhor e se frustram quando percebem que não conseguem se igualar àquele que é especialista na brincadeira. E essa brincadeira passa do limite em vários momentos. No filme, a competição fica apenas no pega-pega, as demais situações pessoais são comparadas de forma bem velada. No entanto, na realidade, nosso pega-pega consiste em verificar quem teve mais sucesso, quem ganhou mais dinheiro, quem tem o melhor carro, melhor casa, melhor família. Quando os amigos de infância se encontram, são essas comparações que vêm à tona, causando orgulho, amargura, inveja, decepção. Que nossas amizades possam ser livres de comparações e competitividade, ficando apenas a amizade genuína, a preocupação com o outro e o desejo de servir.
Dediquem-se uns aos outros com amor fraternal. Prefiram dar honra aos outros mais do que a si próprios. (Romanos 12:10)