Guerra fria é um filme do diretor Pawel Pawlikowski, também responsável pela fotografia e direção de arte. Narra um romance que se passa durante a guerra fria que tem como pano de fundo acontecimentos históricos, pressões geopolíticas, exposições culturais e tantos outros aspectos dessa época marcante da história mundial.
O filme se inicia na Polônia pós-guerra, onde pesquisadores estão em uma missão cultural atravessando o país com o objetivo de gravar cidadãos locais cantando canções folclóricas. Tudo isso faz parte de um projeto grandioso de restaurar a cultura polonesa. Uma companhia artística então é montada com jovens que irão interpretar essas canções já com arranjos orquestrais, tornando-se a principal companhia do país. Essa parte inicial do filme foi a que mais me chamou a atenção, pela maneira como a cultura local é abordada e valorizada. Wiktor é um dos pesquisadores, o arranjador e maestro do grupo formado. Zula é uma jovem escolhida por ele para compor o coro com dança, e logo ganha destaque principal. Ambos começam um romance escondido que irá abalar suas vidas para sempre. Juram amor eterno e buscam uma forma de viverem juntos. Wiktor quer aproveitar uma chance em que o coro irá cantar em Berlim para fugir para o ocidente. Zula tem dúvidas sobre essa fuga e acaba não comparecendo no local marcado. Assim ele vai sozinho e a história problemática do romance entre os dois se inicia.
Apesar da clara situação política destacada no próprio título do filme, todo o foco da narrativa recai sobre o romance do casal, que vive de encontros e desencontros. As fronteiras entre comunismo e capitalismo parecem ser as responsáveis por separá-los geograficamente. Porém, percebemos que há outras fronteiras, muito mais profundas, emocionais e psicológicas, que os impedem de ficar juntos. Por pelo menos três vezes eles têm a oportunidade de ficar juntos para sempre, e desperdiçam por diferenças de personalidade e de gostos pessoais. Ela, cantora e dançarina, possui uma personalidade forte e parece preferir o estilo de vida que leva do lado da União Soviética. Já ele, sempre pensativo e melancólico, pianista, prefere a vida boêmia de Paris, com toda efervescência cultural, as oportunidades de trabalho e o jazz. As tentativas e arranjos que planejam para ficar juntos não dão certo por culpa deles mesmos. A vida caminha, eles se envolvem em outros relacionamentos, mas ocasionalmente conseguem se encontrar para, então, mais uma nova frustração. Parece que se não houvesse o problema político eles não conseguiriam ficar juntos de qualquer maneira. Apesar de tudo isso eles se amam e sempre desejam se reencontrar e viver juntos, apesar dos traumas e das mágoas. A separação os motiva e lhes oferece uma razão para viver. A união leva à monotonia, à frustração, ao desânimo à insatisfação.
Como poder falar em amor se eles não conseguem conviver? Como falar em amor se eles são tão diferentes um do outro? Após décadas de sofrimento, ao decidirem de uma vez por todas caminharem juntos, a insatisfação volta a tomar conta, bem como o desejo de mudar as coisas novamente. Para muitos a vida é assim: uma eterna busca pela excitação, pela manutenção do desejo, da paixão, do novo. Uma vez realizado, o desejo acaba dando lugar à monotonia, à rotina e assim as diferenças se sobressaem. Os defeitos ficam claros e evidentes, e a convivência passa a ser insuportável. Essa é a guerra fria dentro de nós nos relacionamentos. Mas o que fazer se existe o amor e o desejo de permanecer? Muitas são as desculpas para a falta de coragem em mudar para preservar o relacionamento. No caso do filme foram as fronteiras geográficas. Atualmente, algumas são falta de tempo, profissões que não se conciliam, interesses divergentes, família intrometida, falta de dinheiro, falta de sonhos, etc. No entanto, segundo a Bíblia, amar é uma decisão, é o ato de dar (João 3:16). Paixão é um sentimento que vem e vai. O amor é eterno. Decidir amar é decidir estar junto. É decidir fazer tudo pelo outro, até mesmo dar a própria vida (Efésios 5:25). Levando a vida com essa seriedade, mudar atitudes, adaptar gostos e fazer concessões se torna algo óbvio e cotidiano. O amor é uma aventura diária, nele não há monotonia. Sempre que em um relacionamento nos deparamos com uma grande divergência, sabemos que a solução passa pelo abrir mão, pelo ceder. E isso precisa ser feito pelas duas partes. Se o casal do filme conversasse mais e se levasse a sério, poderia ter aberto mão de coisas pequenas que os faria viver juntos para sempre. Precisamos amadurecer para termos relacionamentos saudáveis e duradouros.
“O amor é paciente, o amor é bondoso. Não inveja, não se vangloria, não se orgulha. Não maltrata, não procura seus interesses, não se ira facilmente, não guarda rancor. O amor não se alegra com a injustiça, mas se alegra com a verdade. Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. O amor nunca perece; mas as profecias desaparecerão, as línguas cessarão, o conhecimento passará.”(1 Coríntios 13, 4-8)